A Missa como o Banquete do Cordeiro: Redescobrindo a Missa com Scott Hahn (Minha Conversão: Parte X)

Patrícia Castro

7/21/20256 min read

Da Variedade dos Cultos à Unidade da Missa

Passei 28 anos no protestantismo, frequentando principalmente denominações neopentecostais. Na época, mal compreendia o que o termo "neopentecostal" significava. Só com o tempo e um certo distanciamento pude identificar as características marcantes desse modelo de igreja: ênfase em revelações pessoais, cultos intensamente emocionais, linguagem espontânea e pouquíssima liturgia.

Embora minha experiência mais constante tenha sido em ambientes de perfil irreverente e carismático, também tive contato com igrejas tradicionais, como a Presbiteriana e a Batista. Nessa convivência, percebi uma dinâmica recorrente entre muitos protestantes: a busca constante por uma igreja que "combina" com seu temperamento ou interesses pessoais. Quando algo desagrada — seja o estilo da pregação, a música ou o ambiente — é comum a busca por outras comunidades onde se sintam mais à vontade.

Essa insatisfação, no entanto, acaba deixando muitos protestantes "desigrejados". Como o protestantismo nega a existência de uma igreja instituída, o sacerdócio ministerial e os sacramentos, é natural que muitos optem por viver a fé cristã de forma isolada, quando nenhuma congregação os atrai.

O católico, por sua vez, não pode ser católico sozinho em casa. Ele precisa receber os sacramentos de um sacerdote, confessar-se, participar da Missa. Já no protestantismo, cada membro é considerado sacerdote de si mesmo. Embora nenhum pastor deseje perder seu rebanho, essa ideia do sacerdócio universal permite que muitos vivam sua fé individualmente — com pastores pregando pela internet, sem que seus fiéis precisem sequer pisar em uma igreja. Hoje, muitos protestantes cultivam sua fé no ambiente doméstico sem considerar que isso seja um problema.

Se fosse possível associar os estilos de igreja aos temperamentos humanos, talvez pudéssemos dizer que as igrejas neopentecostais atraem os sanguíneos e coléricos, com sua espontaneidade, ritmo e intensidade. Já as igrejas históricas parecem ressoar mais com os fleumáticos e melancólicos, que valorizam ordem, sobriedade e reflexão.

Minha Jornada: Do Barulho à Reverência

Eu, particularmente, nunca fui do tipo que achasse normal viver a fé de forma solitária. Sempre acreditei que a vida cristã deve ser vivida em comunidade. No entanto, confesso que me cansei do ambiente barulhento das igrejas que frequentava — cultos agitados, com louvores frenéticos, bateria, gritos e constantes apelos emocionais. Sentia falta de silêncio, de reverência, de algo que fosse voltado mais para a alma, para o meu interior, do que para os sentidos.

Foi então que, no último dia do ano de 2021, uma amiga me convidou para ir à Missa. Aceitei sem hesitar. Era a Missa da Solenidade de Maria, Mãe de Deus. Eu nunca havia assistido a uma Missa depois de adulta e não sabia exatamente o que esperar, mas confesso que fiquei impactada com tudo.

A liturgia, os gestos, o silêncio sagrado, a beleza do espaço, dos símbolos... tudo me tocou de uma forma inexplicável. Apesar de não conhecer praticamente nada da fé católica, nada ali me escandalizou. Ao contrário, parecia que finalmente eu havia encontrado o que meu coração buscava há anos. Desde então, nunca mais deixei de participar da Missa, mesmo que a conversão só tenha começado a acontecer alguns meses depois. E nunca mais voltei à denominação que frequentava.

Mesmo sentindo-me espiritualmente acolhida e em paz na Missa, foi através de Scott Hahn — novamente — que a luz sobrenatural da graça iluminou a minha inteligência para entender o verdadeiro significado da Eucaristia. Em seu livro "O Banquete do Cordeiro", ele apresenta, com a maestria de um mestre, aquilo que eu já intuía com o coração, mas ainda não compreendia com a razão.

Scott Hahn e a Redescoberta da Missa

Scott Hahn é uma referência indispensável para quem deseja mergulhar nas riquezas da fé católica. Para os que vêm do protestantismo, sua obra é especialmente impactante. Ex-pastor calvinista presbiteriano, Hahn possui uma visão única da Igreja, profundamente bíblica e acessível, capaz de iluminar aspectos que até católicos de berço desconhecem.

Ao estudar os primeiros escritos cristãos, Hahn deparou-se com termos como "liturgia", "Eucaristia" e "sacrifício" — palavras que não faziam sentido em sua tradição reformada. Decidiu, então, assistir a uma Missa, apenas como observador e estudioso. Havia sido ensinado que a Missa era um sacrilégio, uma "re-sacrificação de Cristo", e foi com essa desconfiança que entrou numa Igreja Católica.

Sentou-se discretamente num dos bancos, com a Bíblia aberta ao lado. Estava pronto para julgar tudo à luz das Escrituras. Mas logo nas leituras iniciais — Isaías, os Salmos, as epístolas de São Paulo — percebeu que a Bíblia não estava apenas ao seu lado, mas na própria estrutura da celebração.

Apesar disso, manteve-se como espectador. Até que ouviu o sacerdote pronunciar as palavras da consagração: “Isto é o meu corpo... Este é o cálice do meu sangue.”

Naquele instante, algo mudou. Quando o sacerdote elevou a hóstia, uma oração brotou do seu íntimo, quase involuntária: “Meu Senhor e meu Deus. Sois realmente Vós!”

A emoção se intensificou ao ouvir a assembleia entoar repetidamente: “Cordeiro de Deus... Cordeiro de Deus... Cordeiro de Deus...” E, em seguida, o sacerdote proclamar: “Eis o Cordeiro de Deus...”, erguendo a hóstia consagrada.

Em menos de um minuto, a expressão “Cordeiro de Deus” havia ressoado quatro vezes. Graças à sua familiaridade com o livro do Apocalipse, Scott Hahn imediatamente entendeu onde estava:

  • Estava diante do trono do Cordeiro.

  • Estava na liturgia celeste descrita por São João.

  • Estava no banquete das núpcias do Cordeiro.

  • Estava na Missa.

A Missa e o Apocalipse: Uma Janela para o Céu

Para muitos, o Apocalipse é um livro enigmático, carregado de símbolos e profecias sobre o fim do mundo. No entanto, sob uma leitura iluminada pela tradição da Igreja, percebemos que o Apocalipse é, acima de tudo, uma revelação do culto celestial.

Scott Hahn, após sua conversão, ficou impressionado com a quantidade de elementos litúrgicos presentes no texto: altares, incenso, velas, leitura das Escrituras, vestes sacerdotais, cânticos, orações responsoriais — e, no centro de tudo, o Cordeiro imolado. Não há como ignorar a semelhança com a estrutura da Missa.

Essa descoberta transformou sua visão: a Missa não é uma invenção posterior da Igreja, tampouco uma cerimônia simbólica. Ela é a atualização sacramental do culto celeste, a ponte entre o Céu e a Terra. Nela, o sacrifício de Cristo é tornado presente, e a assembleia dos fiéis se une ao louvor dos anjos e santos, como nos diz Ap 5:11: “por miríades de miríades e milhares de milhares.”

Essa compreensão não é nova. Desde os primeiros séculos, os Padres da Igreja viam na Eucaristia uma antecipação do banquete eterno. O próprio termo “Apocalipse” (apokaˊlypsis) significa “revelação” — e aquilo que se revela não é apenas o futuro, mas o culto eterno do Céu, no qual Cristo, o Sumo Sacerdote, preside como o Cordeiro imolado.

Conclusão: Da Terra ao Céu pela Liturgia

A experiência de Scott Hahn — e a de tantos convertidos — revela algo essencial: a Missa não é uma invenção humana, mas uma participação no que já acontece eternamente no Céu. Ao contrário do culto que gira em torno de preferências humanas, a liturgia católica nos insere em algo que nos transcende.

A Missa é, ao mesmo tempo, memória, presença e antecipação. É a renovação incruenta do sacrifício da Cruz, a ceia pascal dos cristãos e o banquete das núpcias do Cordeiro.

Ao redescobrir a Missa com olhos novos, finalmente entendi: não estamos apenas na Igreja — estamos diante do trono de Deus. Não é à toa que São Padre Pio de Pietrelcina, com sua profunda espiritualidade, afirmava: "Se soubéssemos o que é a Missa, as igrejas não suportariam a quantidade de pessoas." Ele ia além, sugerindo que se as pessoas realmente compreendessem a importância desse sacramento, a polícia seria necessária para controlar as multidões nas portas das igrejas. Padre Pio enfatizava incessantemente o valor da Santa Missa como um verdadeiro encontro com Jesus Cristo, um momento sublime onde o sacrifício redentor de Cristo é misticamente renovado e se torna presente para nós.

Participar da Missa é, portanto, muito mais do que um preceito; é um privilégio e uma oportunidade de vivenciar a presença divina de forma única e transformadora.