A Raiz do Debate: O que realmente separa Católicos e Protestantes (Minha Conversão: Parte VI)

Patrícia Castro

6/29/20254 min read

Se você é católico, provavelmente já ouviu perguntas desconcertantes como: “Por que vocês adoram imagens?”, “Por que veneram o Papa?”, “Jesus não é o único mediador?”. Eu conheço essas perguntas muito bem, porque quando eu era protestante, eu mesma as fazia — e, confesso, muitas vezes acusava injustamente os católicos. A repetição dessas questões pode abalar até os mais firmes, deixando muitos católicos sem resposta e até mesmo inseguros na própria fé. Não é de se admirar que alguns, para evitar o rótulo de idólatras, acabem abandonando a Igreja.

Num país como o Brasil, de raízes católicas profundas, a confusão teológica tem sido uma das principais causas de desvio da fé e da adesão a novas denominações, que surgem quase diariamente. Mas essa confusão só é superada quando o católico decide, com humildade e firmeza, conhecer a própria fé. Foi exatamente isso que transformou minha jornada.

Um Passo de Coragem: Conhecer a Verdade

Ao perceber que, como protestante, eu não tinha acesso à plenitude da verdade da vontade de Deus, tomei uma decisão: assinar a plataforma de cursos do Padre Paulo Ricardo. Esse sacerdote, mesmo atuando pastoralmente em Cuiabá, dedica sua vida a ensinar a fé católica com profundidade e clareza, combatendo a superficialidade espiritual com formação sólida.

Entre os muitos cursos disponíveis no site www.padrepauloricardo.org, escolhi começar por “Por que não sou protestante?”. Eu precisava entender onde estava o erro do protestantismo para então abrir meu coração ao catolicismo que, até então, me parecia estranho. Um protestante não se converte ao catolicismo sem antes entender que é um problema ele estar fora da Igreja verdadeira, aliás, ele nem acredita que existe Igreja verdadeira.

O cerne da questão: a Analogia do Ser

Nesse curso, Padre Paulo vai direto ao ponto, examinando a principal diferença teológica entre católicos e protestantes à luz da obra de Karl Barth, um dos mais respeitados teólogos protestantes do século XX. É curioso como, apesar da imensa variedade entre as denominações — batistas, metodistas, adventistas, pentecostais — todas parecem unidas em suas críticas ao catolicismo. Isso revela que há um princípio central comum a todas essas objeções.

Karl Barth identificou esse princípio ao rejeitar a analogia entis (analogia do ser), base do pensamento católico. Ele a chamou de “invenção do anticristo”. Para ele, a analogia fidei (analogia da fé) era o único caminho legítimo. Em sua visão — fortemente influenciada pela teologia luterana — qualquer tentativa de falar de Deus a partir do mundo criado resultaria em idolatria. Ele dizia: “Todas as outras razões que se podem aduzir para não se tornar católico parecem-me pueris e sem importância.”

A União Hipostática: O Fundamento da Fé Católica

O que Barth rejeitava é, justamente, o coração da fé católica: a união hipostática de Jesus Cristo, ou seja, a união entre sua natureza divina e sua natureza humana em uma única Pessoa. Essa união não mistura as naturezas, mas as une de modo perfeito, sem confusão nem separação. Por isso a Igreja ensina, com total convicção:

• Deus nasceu da Virgem Maria.

• O homem Jesus é Deus.

• Deus padeceu e morreu na cruz por nós.

Essa “comunicação de características” entre as duas naturezas — chamada communicatio idiomatum — torna possível a mediação perfeita de Cristo, pois sua humanidade foi assumida, e não rejeitada, pela divindade. Isso está na raiz de toda a teologia sacramental, mariológica e eclesiológica da Igreja Católica.

A Diferença Real: O Divino e o Humano Caminham Juntos

Padre Paulo Ricardo demonstra que a verdadeira raiz do debate entre católicos e protestantes não está nas imagens, nos santos ou nos sacramentos, mas sim na relação entre o divino e o humano. O catolicismo reconhece que Deus se encarnou plenamente, assumindo a nossa humanidade. E por isso, Ele continua a agir através de realidades humanas e materiais: a Igreja, os sacramentos, os santos, a liturgia, as imagens.

Já o protestantismo, ao negar essa união profunda, rejeita a mediação visível, pois parte da ideia de que a natureza humana está totalmente corrompida. Assim, para muitos protestantes, Deus não pode se servir de nada que seja humano ou material para agir na história. Essa separação teológica radical acaba negando a própria Encarnação em sua plenitude.

A Igreja: Continuação da Encarnação

A Igreja Católica é o Corpo Místico de Cristo, a continuação visível da Encarnação no mundo. Após a queda de Adão, a humanidade perdeu a graça e a amizade com Deus. Mas em sua misericórdia, o Pai enviou o Filho para nos salvar. Jesus, o Verbo Encarnado, é o novo Adão, que inaugura uma nova humanidade reconciliada com Deus.

Ao fundar a Igreja, Cristo não quis apenas deixar ensinamentos, mas um organismo vivo, composto de homens, através do qual Ele continua sua obra. A Igreja é sua Esposa Santa e Imaculada, por meio da qual Ele distribui as graças conquistadas na cruz.

Assim como o Verbo se serviu da carne para nos redimir, Ele continua, ao longo da história, se servindo da Igreja — com seus sacramentos, seus ministros e sua liturgia — para tornar presente, aqui e agora, a salvação.]

Em suma: A verdadeira diferença entre católicos e protestantes não está nas aparências, mas no fundamento teológico: O católico crê que Deus assumiu plenamente a humanidade e se serve dela para nos salvar.

Essa é a nobreza da fé católica: Deus se fez homem e continua a agir através do que é humano. O que Barth e tantos outros protestantes chamam de “idolatria” ou “superstição” é, na verdade, a beleza do mistério da Encarnação.