A Verdade sobre a Inquisição: Desfazendo os Mitos

Patrícia Castro

9/23/20254 min read

Quando se fala em Inquisição, logo vêm à mente imagens de fogueiras, torturas e tribunais cruéis, sempre associadas à Igreja Católica de forma negativa. Poucos sabem, porém, que essa visão foi construída ao longo de séculos por iluministas, protestantes e propagandistas anticatólicos, que distorceram a realidade e transformaram a Inquisição em sinônimo de intolerância e violência.

Hoje contamos com pesquisas sérias que desmistificam esse período e, graças ao acesso à informação, podemos confrontar narrativas que por muito tempo foram aceitas sem questionamento. Buscar a verdade, entretanto, exige humildade e disposição — afinal, se tantas mentiras se repetiram, é porque alguém tirava e ainda tira proveito dessas falsificações históricas.

Não houve uma única Inquisição

É importante lembrar que existiram quatro principais formas de Inquisição:

1. Medieval – fundada no século XIII, voltada contra heresias que ameaçavam a unidade da cristandade, como os cátaros.

2. Espanhola – instituída em 1478 pela Coroa da Espanha, com forte dimensão política.

3. Portuguesa – criada em 1536, semelhante à espanhola, mas adaptada ao contexto lusitano e colonial.

4. Romana – fundada em 1542 pelo Papa Paulo III, também chamada de Santo Ofício, atuando principalmente após a Reforma Protestante.

Embora diferentes em contexto e funcionamento, todas tinham como princípio central a defesa da fé e da unidade social. Aqui, vamos nos concentrar na Inquisição Medieval, diretamente ligada à Igreja.

A Origem e o Contexto da Inquisição Medieval

A Inquisição Medieval (séculos XIII a XV) surgiu em um tempo em que a fé era vista como alicerce da ordem social e política. Diferente do Estado moderno, que separa religião e governo, a cristandade considerava a heresia não apenas como erro doutrinário, mas como ameaça à estabilidade coletiva.

Oficialmente instituída em 1231 por Gregório IX, tinha como alvo movimentos como o dos cátaros, que se diziam cristão, mas rejeitavam a matéria, desprezavam a vida e até incentivavam a morte por inanição. Ideias tão radicais, se difundidas, poderiam desestruturar a sociedade tanto naquela época, como nos dias de hoje.

A historiadora Régine Pernoud, em Idade Média: O que não nos ensinaram, lembra que muitos preconceitos atuais resultam de uma leitura anacrônica. Não se pode julgar o passado com os critérios de hoje, mas compreender cada fato dentro da mentalidade de sua época.

Ao contrário da imagem popular, a Inquisição buscava evitar linchamentos e execuções sumárias, muitos comuns naquele tempo. Frequentemente, a Igreja oferecia julgamentos mais equilibrados do que a justiça civil, que aplicava punições muito mais severas. A chamada “lenda negra”, criada por inimigos da Igreja, tinha como objetivo retratá-la como inimiga da liberdade e do progresso.

Mitos e Realidade

A ideia de que a Inquisição matou milhões é pura invenção. Pesquisadores como Henry Kamen e Edward Peters apontam entre 2 mil e 5 mil mortos em todo o período. O historiador italiano Rino Cammilleri, em A Verdadeira História da Inquisição, calcula cerca de 1.200 execuções ao longo de quatro séculos — número ínfimo diante dos exageros.

A maior parte das penas era espiritual: orações, peregrinações e penitências. A intenção não era punir fisicamente, mas reconciliar a pessoa com a fé.

Quanto à tortura, seu uso foi restrito e controlado, muito menos severo do que nos tribunais civis, que recorriam a práticas brutais e frequentes. Em contraste, em um único dia, cortes seculares chegavam a executar mais do que a Inquisição em décadas.

Até mesmo a Inquisição Espanhola, sempre lembrada como exemplo negativo, teve números muito menores do que a propaganda anticatólica divulgou. A historiografia moderna confirma que protestantes ingleses e iluministas franceses deliberadamente exageraram os fatos para enfraquecer a Igreja.

Outro mito recorrente é o de que a Inquisição perseguiu cientistas. O caso de Galileu, frequentemente citado, foi mais uma questão de interpretação bíblica e de postura pessoal do que de ciência. A própria Igreja fundou universidades, apoiou pesquisas e deu origem a inúmeros cientistas.

Os Frutos Positivos da Inquisição

Apesar da má fama, a Inquisição trouxe contribuições significativas:

· Maior racionalidade jurídica: introduziu normas que protegiam acusados contra arbitrariedades.

· Redução da violência social: muitos foram poupados de execuções populares por poderem ser julgados pela Inquisição.

· Unidade cultural e religiosa: em uma época em que divisões levavam a guerras civis, a fé comum ajudava a manter a coesão social.

Conclusão

Pouco se comenta que os próprios reformadores protestantes criaram tribunais semelhantes. Lutero e Calvino apoiaram perseguições contra anabatistas e bruxas. Em Genebra, Calvino levou o médico Miguel Serveto à fogueira, em 1553. Já na Inglaterra, sob Isabel I, inúmeros católicos foram executados por resistirem ao anglicanismo.

É curioso notar que muitos que condenam a Inquisição hoje aceitam práticas infinitamente mais cruéis, como o aborto, a eutanásia, as perseguições ideológicas contra cristãos e até a censura cultural. Se os governantes atuais se orientassem pelo Evangelho, não veríamos tantas imoralidades travestidas de lei.

Claro, a Inquisição não foi perfeita. Mas reduzi-la a um “monstro sanguinário” é fraude histórica. Regimes modernos, como o comunismo (mais de 100 milhões de mortos) e o nazismo (cerca de 20 milhões), revelaram ao mundo o verdadeiro rosto da tirania e da crueldade — acusando a Igreja daquilo que eles próprios praticaram em escala incomparavelmente maior.

No seu contexto, a Inquisição foi uma tentativa de aplicar justiça em meio à instabilidade religiosa e social. Cabe a nós desmascarar as falsificações e reconhecer que, apesar dos ataques de ontem e de hoje, a Igreja permanece como guardiã da verdade — inclusive sobre o seu próprio passado.