As Raízes da minha Resistência ao Catolicismo (Minha Conversão: Parte II)
Patrícia Castro
6/14/20255 min read
Apesar de ter sido batizada na Igreja Católica, meus pais não me criaram dentro da Igreja que o próprio Cristo fundou. Não os culpo por isso, pois também lhes faltou uma boa catequese. Ainda assim, sou grata a eles — e à influência dos meus avós católicos — por ter recebido o sacramento do Batismo ainda recém-nascida. Hoje reconheço o quanto esse sacramento foi essencial ao longo de minha vida: mesmo tendo trilhado outros caminhos, ele me manteve conectada à graça que, um dia, me faria retornar para casa.
Olhando para trás, percebo com clareza como o Espírito Santo sempre me conduziu, mesmo sem que eu soubesse, em direção ao caminho da Verdade. Quando criança, não conseguia dormir sem antes rezar um Pai-Nosso, uma Ave-Maria e uma oração ao meu Anjo da Guarda. Meu contato mais próximo com a Igreja Católica acontecia nas férias escolares, quando eu viajava para o interior do Mato Grosso para visitar meus familiares. Nessas ocasiões, frequentava missas e procissões com minhas tias e avó, uma mulher de fé. Recordo que certa vez ela me disse, com seriedade, que eu precisava fazer catequese e receber a Primeira Comunhão. Embora eu percebesse o peso de suas palavras, minha mente ainda infantil, com apenas 12 anos, não conseguia compreender plenamente o que ela queria me dizer.
Aos meus quinze anos, eu nutria um profundo desejo de comungar, mesmo sem nunca ter participado de uma missa em minha cidade. Sentia dentro de mim uma vontade sincera de receber o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, embora não soubesse ao certo como realizar esse desejo. Certa vez, uma tia que morava no interior veio nos visitar em Goiânia e me chamou para ir até Trindade. Aproveitei a oportunidade e compartilhei com ela meu desejo de comungar. Sensível ao que eu sentia, ela me levou até um padre da igreja matriz e explicou a ele o que eu queria. O padre me recebeu com atenção e carinho. Fez algumas perguntas sobre minha vida, meus pecados e minha fé. Após essa conversa, ele decidiu me conceder a comunhão. Foi a única vez que participei da Eucaristia.
Na escola, porém, fui bombardeada com uma visão distorcida da história da Igreja. Aprendi que a Idade Média — período em que a fé católica era o centro da vida social — era chamada de “Idade das Trevas”. Ensinaram-me que o homem teria se libertado das "amarras" da Igreja, que supostamente impunha uma vida de escravidão aos fiéis. A visão marxista da história apresentou a Igreja como a “prostituta do Apocalipse”, enquanto Martinho Lutero foi retratado como um herói que ousou enfrentar os abusos e corajosamente dividiu a Igreja. Professores repetiam, como mantras, que "a religião é o ópio do povo", que ela perseguia e matava em nome da fé. Com isso, fui crescendo com a ideia de que a religião era algo negativo — algo que afastava as pessoas de Deus e as unia a um grupo cruel e opressor.
A televisão também contribuiu para essa visão distorcida. As novelas da Rede Globo, por exemplo, mostravam os católicos como pessoas caricatas: as senhoras fofoqueiras, os padres envolvidos em romances proibidos, as solteironas histéricas, e assim por diante. Os autores, geralmente ateus, retratavam a Igreja não como o Corpo Místico de Cristo, mas como uma instituição hipócrita, composta por pessoas falsas e cheias de segredos.
Os filmes também não colaboravam. Muitas vezes, mostravam freiras como figuras cruéis, que maltratavam crianças órfãs com uma rigidez desumana. Até mesmo aquelas mulheres que, por amor a Deus, renunciavam ao matrimônio e à maternidade biológica para se dedicarem à oração e ao cuidado dos pobres e abandonados — especialmente dos órfãos — eram retratadas como vilãs. Essa imagem injusta e deturpada foi gerando em mim uma resistência crescente ao catolicismo, mesmo sem nunca o ter conhecido de fato.
Além disso, as notícias envolvendo escândalos — padres acusados de pedofilia, freiras que se diziam aprisionadas, rumores de abusos e práticas sexuais indevidas — tudo isso conspirava contra minha aproximação da fé católica. Eu queria Jesus, mas não queria fazer parte de uma Igreja que, aos meus olhos, parecia tão corrompida.
Aos 19 anos, sentindo-me vazia emocional e espiritualmente, e sem grandes esperanças nesta vida, aceitei o convite de um colega de trabalho para visitar uma igreja neopentecostal. As músicas eram agradáveis, tocavam minha alma, e as pregações me animavam. Senti-me feliz. Permanecei lá por 14 anos.
Com o tempo, porém, percebi que as mensagens giravam apenas em torno de prosperidade material: Semana das Portas Abertas, da Vitória, da Saúde, da Prosperidade... uma campanha após a outra. Na virada do ano, era Ano da Conquista, Ano para Abrir as Portas do Céu. Embora eu gostasse de sermões motivacionais que de fato me faziam prosperar, essas palavras se tornaram vazias e não alimentavam meu espírito.
Busquei outra igreja, que à primeira vista parecia diferente, mas com o tempo percebi que era "mais do mesmo". Era uma denominação em células, focada em multiplicar grupos, encher a igreja e expandir redes. A comunhão entre os irmãos é um pilar forte, e isso realmente atrai muitas pessoas – afinal, somos seres sociais e gostamos de nos relacionar.
No entanto, as divisões eram frequentes. Quando um pastor ganhava destaque, não era raro que se rebelasse contra o líder, saísse e levasse consigo seus liderados para fundar uma nova denominação, alegando que a visão anterior estava equivocada. Para entender esses rachas, é preciso compreender que, nas grandes denominações protestantes, os fundadores são como empresários, enquanto os outros pastores são assalariados, ganhando relativamente pouco. Então, quando surge um líder talentoso, é natural que ele caminhe sozinho, pois terá mais chances de prosperar neste trabalho e dar uma vida mais confortável e, às vezes, até luxuosa para sua família. Se igreja protestante não fosse um bom negócio, não haveria uma em cada esquina e todas elas pregando, exaustivamente, a importância de se entregar dízimos e ofertas, associando isso à prosperidade do fiel.
Sei que meu relato pode desagradar alguns amigos e leitores que ainda estão nessas igrejas, mas peço que compreendam: este é um testemunho pessoal. Você pode até discordar da forma como, hoje, interpreto os fatos — mas não pode dizer que estou inventando. Meu objetivo aqui não é atacar meus irmãos protestantes, mas simplesmente relatar com honestidade o que vivi ao longo de tantos anos.
Não tive experiências traumáticas; pelo contrário, aprendi muitas histórias bíblicas, ouvi pregações edificantes e conheci pessoas sinceras, honestas e generosas, por quem tenho grande estima. No entanto, ao buscar a verdade de forma mais profunda, fui percebendo aspectos que antes me escapavam. Agora, de fora, consigo enxergar os dois lados — e não posso deixar de partilhar aquilo que só hoje compreendo com clareza.
Reconheço que não é fácil para um protestante tornar-se católico. É preciso uma compreensão clara do que realmente é a Igreja, assim como o que foi — e continua sendo — a Revolução Protestante. Sem esse entendimento, a conversão se torna quase impossível. Mas, uma vez que a verdade é conhecida, é ela mesma que nos liberta.
Demorei muito para perceber tudo isso. E entendo o porquê: eu ainda não conhecia, de fato, a Igreja verdadeira. Foi preciso renunciar minhas certezas e crenças para buscar a verdade por completa: Cristo é o cabeça, a Igreja é o corpo. E ela é Santa, Una, Católica, Apostólica e Romana.

