Como o Desejo pela Verdade me Conduziu à Igreja Católica (Minha Conversão: Parte III)

Patrícia Castro

6/14/20255 min read

Com uma impressão totalmente equivocada a respeito do catolicismo, somado à opinião dos inúmeros pastores que eu ouvi durante meus 28 anos frequentando cultos protestantes, naturalmente, jamais cogitaria fazer parte da Igreja de 2000 anos. Essa mudança só foi possível pela graça do Espírito Santo, que plantou em mim o desejo sincero de conhecer a verdade.

Vivi cerca de 40 anos cultivando preocupações mais imediatas, sem me preocupar em encontrar respostas para as grandes contradições da vida. Na faculdade — período em que o Cristianismo costuma ser atacado por professores militantes de esquerda — comecei a me perguntar se seria possível conciliar fé e ciência, mas não encontrei nenhuma resposta.

Ao cursar Comunicação Social, percebi que a formação ali oferecida era, em grande parte, apenas uma autorização formal para exercer o Jornalismo e não um verdadeiro percurso intelectual ou espiritual — para aqueles, claro, que ainda acreditam que esses dois mundos possam ser separados. Recentemente, lendo “A Vida Intelectual”, do padre Antonin-Gilbert (1863-1948), percebi como a jornada de busca do conhecimento deve ser um caminho de santificação. São Tomás de Aquino também defendia que fé e razão devem caminhar juntas. Esse é um alicerce fundamental para o crescimento cristão: “Você crê para conhecer e conhece para amar, pois ninguém ama aquilo que não conhece”.

Essa visão também ajuda a entender o problema da fé reduzida ao sentimentalismo. Fé não é emoção. Quando se apoia apenas no que se sente, ela não resiste à primeira investida do inimigo — especialmente quando ele oferece prazeres mais intensos do que o silêncio contemplativo necessário para ouvir a voz de Deus.

Olhando para trás, vejo que as redes sociais foram o canal por onde Deus começou a se aproximar de mim. Com o surgimento dessas plataformas, ideias de grandes pensadores — antes restritas a uma pequena elite e filtradas por professores e comunicadores de viés ideológico — começaram a se espalhar amplamente. Aqueles que antes controlavam o debate público viram sua hegemonia ameaçada. Não por acaso, hoje há tanta discussão sobre censura nas redes: embora possam ter sido criadas para disseminar o mal, não há mal algum do qual Deus não possa extrair um bem maior.

Em 2015, eu ainda não compreendia com clareza o que estava acontecendo no Brasil — tanto cultural quanto politicamente. Lembro-me de uma disciplina na faculdade chamada Realidade Sociopolítica e Econômica Brasileira, da qual saí mais confusa do que entrei, lendo trechos de Marx e Engels sem entender de fato a realidade do nosso país.

Foi nessa tentativa de entender o Brasil que conheci um “velho engraçado” que falava verdades duras, mas necessárias. Já era famoso na internet, mas, para mim, recém-chegada às redes sociais, foi uma descoberta inusitada e bastante impactante: eu havia encontrado um filósofo de verdade. Olavo de Carvalho dizia exatamente aquilo que eu pensava, mas não sabia expressar. Com ele, compreendi o Marxismo, a Guerra Cultural, a Revolução Gramsciana, a Escola de Frankfurt — temas que eu havia “estudado” superficialmente na faculdade, mas que, até então, me pareciam apenas conceitos abstratos. Comecei a perceber que havia um projeto claro de destruição do Cristianismo e dos valores ocidentais.

Olavo despertou em mim o desejo de saber, de compreender a história, os pensamentos que moldaram o mundo, os agentes por trás dos grandes movimentos e suas intenções. A Bíblia já me dizia que “o mundo jaz no maligno”, mas foi ele quem me mostrou como isso se manifesta concretamente.

Suas postagens no Facebook e suas aulas no Curso Online de Filosofia ainda ecoam na minha mente:

• “Moderação na defesa da verdade é um serviço prestado à mentira”.

• “A burrice e a maldade andam juntas”.

• “Não prostitua sua personalidade em troca da aceitação do grupo — é um preço muito alto a se pagar”.

• “Esse é o problema máximo da vida humana: o que você vai fazer com a sua vida enquanto é tempo”?

• “A coragem está em defender suas convicções mesmo quando todos ao seu redor duvidam”.

Esse estilo direto e ousado moldou minha forma de enxergar e defender a verdade. Eu respeitava demasiadamente seu vasto conhecimento, mesmo sem, naquele momento, partilhar de sua fé católica. Mas foi com ele que aprendi a importância de construir um “mapa da ignorância” — saber que não sabe é tão importante quanto saber que sabe.

Eu jamais tive vergonha de admitir que sabia muito pouco. Quando ele dizia para os portadores de diplomas de curso superior, principalmente os de Humanas, para esconderem seus os diplomas, eu prontamente guardei o meu. Consciente da minha ignorância e ávida por não passar esta vida como os prisioneiros da caverna de Platão, pedi a Deus que iluminasse minha inteligência e me conduzisse a ver a verdade mesmo se eu não conseguisse contá-la para ninguém.

Assisti a diversas aulas do COF, explorei seus vídeos no YouTube e li grande parte de seus livros. Foi por meio dele — e de seus alunos — que conheci autores como Gilbert Chesterton, Roger Scruton, Thedodore Darlimple que me ensinaram muito a valorizar a tradição. Certo dia, vi que um líder da igreja que eu frequentava, que eu considerava muito inteligente, havia se convertido à fé católica e isso me deixou bastante intrigada. Logo, fiz amizade com a esposa dele e, curiosamente, me abri para ouvir os motivos dessa conversão.

Durante cerca de um ano, reuníamo-nos regularmente para jantar e conversar sobre a fé. Nessas ocasiões, ele compartilhava conosco diversos ensinamentos sobre a Igreja Católica. Apesar do meu interesse, minha mente ainda não compreendia tudo o que ele dizia. Eu escutava com atenção, mas muitas das explicações pareciam distantes ou difíceis de assimilar naquele momento.

Lembro-me de que, certa vez, ele me desafiou a estudar por conta própria a fé católica — a mergulhar nas fontes e buscar entender, por mim mesma, em que consistia essa fé que ele defendia com tanta convicção. Respondi, com sinceridade, que não acreditava ser possível chegar a uma conclusão definitiva sobre quem estava com a verdade: os católicos ou os protestantes. Para mim, tudo parecia relativo. A ideia de uma verdade absoluta me soava inalcançável.

Vejam a ironia: eu, que combatia o marxismo relativista, também era relativista — influenciada, é claro, pela cultura marxista que contaminou o Brasil e o mundo, destruindo o senso de certo e errado, e promovendo a crença de que a verdade depende do ponto de vista de quem a observa.

Eu realmente não sabia que era possível esclarecer essas questões com segurança e chegar à certeza de que um caminho era verdadeiro, enquanto o outro estava incompleto. Foi então que recebi desse casal um presente que marcaria o início do meu processo de conversão: o livro Todos os Caminhos Levam a Roma, de Scott Hahn — um ex-pastor presbiteriano que havia se convertido ao catolicismo após anos de estudo, oração e resistência interior.

Lendo este primeiro livro de um grande apologeta católico, que já tinha sido um protestante bem mais estudioso do que eu, lentamente comecei a navegar por mares católicos e, neles, encontrei uma surpreendente Tradição, Ordem e Beleza.

Imagem 4: "Santo Agostinho, de Philippe de Champaigne (1650)