Desmentindo os Mitos da Idade Média: Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental

Patrícia Castro

9/7/20255 min read

Você já parou para pensar por que você não é budista, hinduísta ou muçulmano? Ter nascido no Brasil, no século XX ou XXI, te coloca em uma posição que, embora não seja considerada "privilegiada" pelos insatisfeitos, talvez nem fosse uma possibilidade em sociedades antigas onde a guerra era a norma e a noção de "justiça" era desconhecida. A vida em tempos pré-cristãos era marcada por uma barbárie que, se relatada, seria digna de um filme de terror. Ao contrário do que muita gente pensa, o mundo de hoje, apesar de seus desafios, já foi muito pior antes da chegada do Cristianismo. E foi a Igreja Católica  que, com um trabalho persistente, levou o Evangelho aos povos, florescendo, principamente, em um período que o mundo moderno, de forma maliciosa, chama de "Idade das Trevas".

Desmistificando a "Idade das Trevas" e o Legado da Igreja

Quando se fala em Idade Média, a imagem que surge com mais frequência são fogueiras, torturas e perseguições. Essa visão, repetida por séculos em filmes, séries e livros escolares, consolidou-se como um “senso comum” distorcido da história. A ideia de que a Igreja foi inimiga do conhecimento é, na verdade, um mito. Quem se dispõe a examinar os fatos históricos descobre que a Igreja preservou o saber, fomentou a educação e lançou as bases da ciência, da filosofia e da cultura ocidental.

A educação na Idade Média tinha um propósito claro: formar pessoas sábias e santas, integrando conhecimento e virtude, como bem lembra o padre Paulo Ricardo. O verdadeiro legado medieval não é de “trevas”; pelo contrário, foi uma época de construção do conhecimento, da civilização e da própria identidade cultural do Ocidente.

Thomas E. Woods Jr., em seu livro Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental, mostra que os verdadeiros centros de preservação e difusão do saber estavam nos mosteiros, catedrais e universidades. Eram os monges que copiavam manuscritos antigos, estudavam filosofia, teologia e ciências naturais, e transmitiam esse conhecimento às gerações seguintes. Entre os grandes estudiosos medievais, destacam-se Santo Alberto Magno, mestre de São Tomás de Aquino e pioneiro nos estudos das ciências naturais; Roger Bacon, frade franciscano que defendia a observação e a experimentação como fundamentos do conhecimento; e Nicole Oresme, bispo e matemático que antecipou ideias sobre o movimento da Terra séculos antes de Copérnico. Esses são apenas alguns exemplos que demonstram claramente que a ciência floresceu em solo cristão, enquanto fora do cristianismo predominavam povos com costumes rudimentares e sem acesso sistemático ao conhecimento.

Poucos sabem que foi a Igreja que criou as primeiras universidades, instituições revolucionárias que sistematizaram o ensino e consolidaram o conhecimento. A Universidade de Bolonha, na Itália, considerada a mais antiga do mundo, foi fundada, em 1088, por monges católicos e funcionava como polo de aprendizado e cultura, uma referência mundial por onde passaram, entre outras celebridades, Nicolau Copérnico, Dante Alighieri, autor da Divina Comédia, e Enzo Ferrari, o fundador da renomada marca de carros esportivos. Outras universidades importantes, como Paris, Oxford e Salamanca, seguiram o mesmo modelo, consolidando a educação formal e crítica na Europa.

A influência da Igreja na política, tantas vezes alvo de críticas, foi fruto da sua autoridade intelectual e moral num tempo em que o saber estava concentrado em suas mãos. Hoje, o que se vê é o contrário: governantes que rejeitam os ensinamentos de Cristo e de Sua Igreja acabam abrindo espaço para leis que legalizam a injustiça e normalizam a imoralidade. Basta olhar para o aborto — um crime hediondo contra os mais indefesos — tratado com frieza por legisladores que perderam a noção do que é certo e do que é verdadeiramente humano.

Para além da ciência e da educação, a Igreja legou à arte e à cultura um vasto patrimônio. Catedrais, esculturas, pinturas e música sacra, como veículos de conhecimento, beleza e tecnologia, demandaram planejamento, engenharia e matemática em sua construção, comprovando a união entre fé e razão na moldagem da civilização ocidental.

A Europa é, hoje, um verdadeiro museu a céu aberto, repleto de obras de arte valiosíssimas. Dificilmente encontramos hoje construções que se igualem à grandiosidade das edificações medievais. A engenharia, o senso estético e a harmonia entre funcionalidade e beleza dessas obras revelam um conhecimento e uma visão que, lamentavelmente, nós perdemos.

O Legado Jurídico, Ético e Social da Igreja

Muitas pessoas nutrem preconceito ou aversão à Igreja Católica por desconhecimento. Ignoram, contudo, que o Direito Canônico serviu de base para os sistemas legais ocidentais, estabelecendo justiça, codificação normativa e proteção aos direitos individuais. A noção de justiça que temos hoje no Ocidente é um legado cristão, cuidadosamente sistematizado pela Igreja. Fora desse contexto, predominava o desrespeito à vida humana e um estilo de vida marcado pela violência entre povos que não professavam o cristianismo.

Filósofos e teólogos da Escolástica, como Santo Tomás de Aquino e Francisco de Vitória, estabeleceram princípios que continuam a influenciar a economia, a moral e o direito internacional até os dias de hoje, evidenciando a profunda contribuição da Igreja para a civilização ocidental.

O trabalho dos religiosos católicos também se manifestou nas ações práticas de caridade. Foram eles que criaram instituições sociais, como hospitais, escolas, orfanatos e outras obras assistenciais. Essa preocupação com a dignidade humana e o bem comum mostra que o cristianismo medieval não se limitava à vida espiritual, mas buscava construir uma sociedade mais justa, culta e solidária, cujo impacto atravessou séculos.

A Verdade Redescoberta: Uma Reflexão Chestertoniana

Em suma, como ressalta Thomas E. Woods Jr., o mito de que a Igreja se opôs ao progresso científico e cultural é completamente equivocado. Ao contrário, ela foi guardiã do saber, promotora da ciência, da arte e da educação, e fundadora das bases que sustentam a civilização ocidental até os dias de hoje.

Podemos traçar um paralelo com a reflexão de G.K. Chesterton em sua obra Ortodoxia. Chesterton descreve como ele navegou por diversos mares de pensamento e filosofia, buscando novas verdades e horizontes. Contudo, ao final de sua jornada intelectual, ele percebeu que tudo o que havia descoberto, todas as revelações que o impressionaram, já estavam contidos em sua "terra natal" – a doutrina cristã, aprendida em uma boa aula de catequese. Assim como Chesterton, muitas vezes, em nossa busca por conhecimento e em nossas críticas ao passado, deixamos de reconhecer a profundidade e a sabedoria inerentes à tradição que nos moldou. As bases da nossa civilização, da nossa moral e do nosso entendimento do mundo, que acreditamos ter descoberto em nossos "mares de exploração", frequentemente ecoam os ensinamentos que poderiam ter sido compreendidos de forma mais plena e integrada desde o início.

Atualmente, percebemos um declínio em nossa civilização, um retorno a valores pagãos, que ocorre, em grande parte, por desconhecermos ou esquecermos os pilares que nos sustentam. Valores fundamentais como os da educação, ciência, arte, moral e o respeito à dignidade humana estão sob ataque. Para preservar esse legado, é essencial comprometermo-nos com nossa própria formação e com a educação de nossos filhos. Devemos reconhecer que a herança cultural, espiritual e intelectual da Igreja Católica não é apenas um registro histórico, mas sim a base sobre a qual se sustentam a liberdade, a justiça e a prosperidade da sociedade em que vivemos.