Do Triunfalismo à Cruz: Meu Testemunho Contra a Teologia da Prosperidade (Parte I)

Patrícia Castro

5/8/20243 min read

Antes de entrar no tema que mudou minha vida, quero fazer um apelo sincero aos meus amigos e familiares protestantes: leiam este testemunho com o coração aberto. Não escrevo para atacar, ferir ou ofender — escrevo porque amo. E porque descobri algo que não posso guardar só para mim. Em tempos de relativismo moral e confusão espiritual, falar de religião já não é luxo; é necessidade. Afinal, o que está em jogo é a salvação eterna.

Por muitos anos, vivi no universo protestante. Foram 28 anos — 14 em cada uma das duas denominações que frequentei. Durante esse tempo, acreditei que estava num caminho cristão autêntico. Fui ensinada a interpretar as Escrituras por conta própria, como se fossem um manual simples e objetivo, descolado da história, da Tradição e da vivência da Igreja. E como muitos cristãos sinceros, segui a fé que me foi apresentada.

Mas essa liberdade interpretativa me colocou diante de uma doutrina que hoje vejo como um grave desvio: a chamada Teologia da Prosperidade.

A princípio, tudo parecia coerente. Os sermões falavam de vitórias, promessas, bênçãos. Mas, aos poucos, comecei a perceber que a fé estava mais ligada às coisas materiais do que transcendentais. A mensagem do Evangelho se tornava uma espécie de contrato comercial: “Se você der sua oferta, Deus lhe dará em dobro.” Aqueles cultos — que deveriam me aproximar de Cristo — poderiam perfeitamente ser extraídos de livros de autoajuda, que nos últimos tempos entopem as prateleiras das livrarias. O pastor que eu admirava parecia mais um coaching motivacional do que um ministro do Evangelho. Sorrisos abundantes, frases de impacto, e promessas de sucesso. Mas onde estava a cruz? Onde estava o Cristo crucificado?

Fui confrontada com a realidade: aquela teologia era mais ideológica que teológica. Escolhia passagens bíblicas específicas, tiradas de seu contexto, para sustentar uma visão triunfalista da fé — uma fé que prometia bens materiais, conforto terreno, e que evitava o tema do sofrimento como se fosse sinal de fracasso espiritual.

Passei então a me questionar: e os Santos? E os mártires? E os apóstolos?

Pedro foi crucificado de cabeça para baixo. Paulo foi decapitado. Estêvão, apedrejado. André, crucificado em forma de X. Todos morreram por amor a Cristo, e nunca prometeram riqueza terrena como sinal da bênção divina. A Igreja nasceu do sangue dos mártires, não dos aplausos dos bem-sucedidos.

Lembrei-me das palavras de Jesus:

“Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mateus 16,24).

Isso me desarmou. Percebi que o Evangelho não é sobre conforto, mas sobre cruz. Sobre entrega, renúncia, sacrifício. E, sim, sobre amor — amor gratuito, não interesseiro.

A Bíblia não silencia sobre bênçãos materiais — Salomão é prova disso. Mas também é prova de que o coração pode se perder quando abandona a fidelidade a Deus. Seu reino se dividiu por causa da idolatria e do apego ao luxo. Prosperidade sem conversão é caminho de queda.

A Teologia da Prosperidade, portanto, falha ao retratar Deus como um distribuidor automático de riquezas, como um banqueiro celestial que opera segundo nossas ofertas. Esquece-se de que Jesus disse:

“É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus” (Mateus 19,24).

O verdadeiro tesouro não está na conta bancária, mas na liberdade interior. Há milionários miseráveis e pobres repletos de paz. E há também aqueles que acumulam bens injustamente, exploram os pequenos e vivem o poder como instrumento de domínio. Nenhum bem terreno preenche o vazio de uma alma distante de Deus.

Cristo foi claro:

“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus” (Mateus 5,3).

E a Igreja, sábia e verdadeira, confirma:

“Fora da Cruz não existe outra escada por onde subir ao Céu.” (Catecismo da Igreja Católica §618)

Aprendi que a santidade não é opcional — é vocação. E que, para trilhar esse caminho, Deus nos deixou meios: a Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, os sacramentos, a Tradição viva, a graça santificante. A fé verdadeira não promete facilidade, mas fidelidade. Não oferece riquezas, mas redenção.

Hoje, olho para trás e agradeço a Deus por ter me tirado daquele ciclo de ilusões. Sei que muitos protestantes são sinceros, piedosos e buscam o Senhor com o coração desejoso. Mas precisam conhecer a plenitude da fé cristã. Não basta dizer que aceita Jesus, se rejeita a Igreja. Ele é a Cabeça; a Igreja, o Corpo. Quem rejeita um, rejeita o outro.

Num mundo afogado em falsas promessas, encontrar a verdade exige coragem, humildade e renúncia. E essa verdade tem nome: Jesus Cristo — pobre, crucificado, ressuscitado. Não é o conforto material, mas a radicalidade do Evangelho que transforma a alma e prepara para a eternidade.

Imagem 1: "Cristo e o Jovem Rico", por Heinrich Hofmann.