Entre Cruzes Retiradas e Almas Perdidas: A Urgência da Unidade Cristã (Meu Testemunho: parte XIII)
Patrícia Castro
8/14/20254 min read
Quando compartilho com um protestante que me tornei católica, quase sempre a reação é a mesma: perplexidade, seguida de indignação. E eu entendo. Durante muitos anos, estive no meio deles e pensava da mesma forma. Por muito tempo, a possibilidade de um protestante se tornar católico parecia impensável. Só recentemente comecei a ver testemunhos de conversões semelhantes à minha — e isso não é por acaso. Desde cedo, fomos expostos a distorções históricas na escola e pela mídia, que criaram barreiras quase intransponíveis contra a verdade.
Percebo hoje que o apego ao princípio do Sola Scriptura — a ideia de que somente a Escritura é suficiente — cria um limite invisível: ao excluir a Tradição e o Magistério, perde-se a chave para compreender a realidade histórica em profundidade. Assim, muitos deixam de perceber os verdadeiros motivos e consequências da Reforma, bem como seu impacto na relação entre Igreja e Estado. Ao enfraquecer a influência da Igreja na política, abriu-se espaço para governantes moldarem a sociedade segundo interesses próprios, transformando o povo em massa doutrinada e sem referências espirituais sólidas.
Por isso afirmo: se o protestante conhecesse com profundidade as origens, as consequências e as contradições do próprio protestantismo, talvez deixasse de protestar. O problema é que a história que recebemos hoje é filtrada por lentes marxistas e materialistas, que reduzem os acontecimentos a disputas de poder e ignoram a dimensão espiritual do homem, criado para buscar sentido e transcendência.
Foi nesse desejo de encontrar a verdade — encoberta por narrativas ideológicas e distorções históricas — que me matriculei no curso Verdade Histórica do professor Marcelo Andrade. Ali, compreendi com mais nitidez a malícia por trás do princípio luterano de “nada valer fora das Escrituras”. Essa ideia, embora pareça correta aos olhos de muitos, resultou na ruptura com a tradição cristã e com a própria estrutura da única Igreja fundada por Cristo. O inimigo nos dividiu para depois nos enfraquecer.
Para entender essa ruptura, é necessário conhecer o próprio Lutero. Ele estudou Direito por seis anos, mas teve apenas dois anos de formação sacerdotal. Sua mãe o considerava instável para o ministério. Foi influenciado por Guilherme de Ockham, que rejeitava a metafísica e fragmentava a compreensão da realidade. Lutero, marcado por crises pessoais e dificuldade em lidar com a santidade e o pecado, projetou sobre o mundo uma visão distorcida da graça e da liberdade. Em vez de buscar redenção nos sacramentos, rompeu com a Igreja e construiu uma doutrina que prometia libertação, mas que abriu caminho para o relativismo religioso e para a secularização da cultura. Isso gerou conflitos e guerras religiosas que deixaram milhares de mortos e fragmentaram a unidade espiritual do Ocidente.
Segundo o professor Marcelo Andrade, a Revolução Protestante e a Revolução Francesa não foram apenas eventos históricos, mas marcos da decadência espiritual e cultural do mundo moderno. Para compreender isso, é preciso derrubar o mito da “Idade das Trevas”. Ao contrário do que se propaga, a Idade Média não foi marcada por ignorância, mas por uma cultura moldada pela fé, pela busca apaixonada da verdade e pela educação voltada para formar sábios e santos. A história da cavalaria, das Cruzadas e até da Inquisição, quando analisada sem o viés anticristão, revela ordem, beleza e transcendência. Basta comparar as obras medievais, ainda de pé na Europa, com a produção cultural moderna para perguntar: será que realmente evoluímos?
A revolta de Lutero, apoiada por príncipes interessados em separar o poder espiritual do secular, iniciou a fragmentação da unidade cristã. Esse rompimento abriu caminho para o relativismo religioso e para o enfraquecimento da autoridade espiritual. Hoje, muitos veem a separação entre Igreja e Estado como um ganho, e protestantes se orgulham de ter contribuído para o Estado “laico”. Mas a realidade é outra: hoje cruzes são retiradas dos tribunais, juramentos falsos se multiplicam e governantes ignoram totalmente os valores cristãos.
Na esteira da Revolução Protestante veio a Revolução Francesa, uma revolta contra os reis que destruiu a ordem política tradicional baseada na monarquia cristã e a substituiu por ideologias secularistas e materialistas. Derrubadas as monarquias que governavam sob a autoridade religiosa da Igreja — guardiã também do conhecimento científico — surgiram os republicanos sedentos por poder, mas sem moral religiosa. Compare os monarcas com os políticos republicanos que os sucederam e questionem se realmente devemos comemorar essa substituição.
Nos dias atuais estamos colhendo os frutos da Revolução Russa, que não foi apenas uma revolta contra sistemas políticos, mas contra o próprio homem. Este é o ápice da negação da dignidade humana: o comunismo, ao promover a desumanização e o controle totalitário, rebaixa a condição humana a algo inferior à dos animais.
Ao perdermos de vista que a verdadeira liberdade só existe numa sociedade que reconhece valores cristãos como absolutos e inegociáveis, passamos a viver num mundo onde a verdade é relativa e cada um interpreta a Bíblia à sua maneira. O resultado é inevitável: sem um fundamento comum, a moral cristã não pode ser defendida de forma absoluta e surge espaço para todo tipo de narrativa que preenche as mentes vazias e forma uma massa de militantes imbecilizados que lutam pela própria ruína.
Diante desse cenário, precisamos nos perguntar: como defender a moral cristã num cristianismo fragmentado, dividido em milhares de interpretações individuais da mesma Escritura? Até quando suportaremos as consequências dessas rupturas antes de reconhecer que precisamos voltar à única fé que preserva a verdade por inteiro e recuperar a dignidade do ser humano, perdida nesse caldeirão ideológico?

