Igreja invisível ou católica? Cristo nos deixou uma Igreja? (Meu Testemunho: Parte XIV)
Patrícia Castro
8/21/20255 min read
Durante a maior parte da minha vida eu acreditei que o protestantismo era a forma mais completa e verdadeira de seguir a Cristo. Minha compreensão sobre a Igreja estava muito distante da ideia de uma única comunidade visível, fundada por Ele. Eu fazia parte de uma denominação neopentecostal cujo pastor dizia que sua missão era “edificar uma igreja de vencedores, em que cada membro é um sacerdote, cada casa se torna uma extensão da igreja, conquistando assim a geração para Cristo através das células que se multiplicam anualmente”.
Para quem não sabe, o movimento pentecostal clássico, surgido no início do século XX, tinha como marcas principais os dons do Espírito Santo, o batismo no Espírito, a cura divina e experiências espirituais intensas. A partir da década de 1970, surgiu o neopentecostalismo, que manteve essa vivência espiritual, mas acrescentou novos elementos: busca pela prosperidade, vitória pessoal, crescimento acelerado das igrejas, uso estratégico do marketing e organização em células, acelerando a expansão religiosa.
Imersa nessa cultura de eventos e células, vivi muito tempo sem conhecer o real significado da Igreja una, santa, católica, sacramental e apostólica. Eu não sabia — e acredito que muitos protestantes também não saibam — que Jesus deixou uma só Igreja visível na Terra, com autoridade clara para ensinar, governar e santificar, conduzindo os fiéis rumo à santidade.
No entendimento protestante, a Igreja nasce apenas da fé em Cristo, sem necessidade de Pedro ou de uma liderança universal. Para eles, a “pedra” mencionada em Mateus 16:18 seria a confissão de fé de Pedro, e cada comunidade deveria ser autônoma. Há também uma interpretação equivocada que leva a uma acusação infundada: já ouvi pastores afirmarem que Deus não habita mais em templos construídos por mãos humanas — como se os católicos acreditassem que os prédios, por si sós, fossem a habitação de Deus. No entanto, a Escritura apresenta uma realidade bem diferente:
“Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus; tudo o que ligares na Terra será ligado nos Céus, e tudo o que desligares na Terra será desligado nos Céus.”
No aramaico, Kepha significa “rocha”, e foi usado tanto para renomear Simão quanto para declarar: “sobre esta Kepha edificarei a minha Igreja”. A mudança de nome foi um gesto profético de Deus, indicando a missão de Pedro e seu papel central. Jesus confiou a ele as chaves do Reino — símbolo de autoridade — e o encarregou de apascentar o rebanho (Jo 21:15-17). Essa missão não terminou com sua morte: continua nos bispos, seus sucessores, que guardam a fé e a unidade da Igreja. Cristo quis uma Igreja una, sólida e visível, firmada sobre Pedro e a sucessão apostólica que permanece até hoje.
Dessa passagem do evangelho de São João, extraímos três pilares fundamentais:
1. Fundação visível: liderança humana instituída por Cristo.
2. Autoridade conferida: as “chaves do Reino” representam poder real para ensinar e governar.
3. Proteção divina: as portas do inferno não prevalecerão, garantindo a perpetuidade da Igreja.
Essa passagem desmonta a ideia protestante de uma Igreja “invisível”, sem instituição ou hierarquia. Ora, se nem uma empresa sobrevive sem organização e liderança, como poderia a Igreja de Cristo expandir-se num mundo bárbaro, mergulhado no paganismo e na idolatria, entre povos escravizados pelas paixões e sem nenhuma noção do que seria uma vida cristã?
Como poderiam apenas doze discípulos, pobres e sem recursos tecnológicos, evangelizar o mundo inteiro? A força da expansão da Igreja, obviamente, não veio de uma fé fragmentada e individual, mas de uma comunidade visível, unida em torno dos Apóstolos, guiada pelo Espírito Santo e sustentada pela autoridade que Cristo confiou a Pedro.
Pedro liderou desde o início: pregou em Pentecostes (At 2), decidiu questões no Concílio de Jerusalém (At 15) e foi reconhecido por Paulo como coluna da Igreja (Gl 2:9). Os testemunhos históricos também confirmam sua liderança:
· Clemente Romano (c. 96 d.C.): exerce autoridade mesmo fora de Roma;
· Inácio de Antioquia (c. 107 d.C.): chama a Igreja de Roma “a que preside na caridade” e afirma: “onde está Cristo Jesus, aí está a Igreja Católica”;
· Irineu de Lião (c. 180 d.C.): declara que “todas as igrejas devem concordar com a Igreja de Roma”, fundada por Pedro e Paulo.
Pedro liderou em Roma, e seus sucessores — os bispos da cidade — preservam a sucessão apostólica. A Basílica de São Pedro foi erguida sobre seu túmulo, testemunho histórico de sua liderança e da continuidade da Igreja. Desde os primeiros séculos, a Igreja se autodenominava católica (katholikós, “universal”), com unidade doutrinária, autoridade central e hierarquia episcopal, conservando íntegros a fé, a moral e os sacramentos instituídos por Cristo.
As Escrituras confirmam a missão de Pedro e de seus sucessores (Jo 21:15-17; Lc: 10:16), enquanto a patrística atesta Roma como referência universal. Esses elementos tornam incontestável que a Igreja deixada por Cristo é Católica desde o início e o fato de haver papas, bispos e padres que não deram um bom testemunho não invalida a Igreja, pois até mesmo entre os discípulos diretos de Jesus havia um traidor que foi convidado por Jesus para a Última Ceia.
Portanto, é um mito protestante afirmar que a Igreja surgiu com Constantino. Ela já existia séculos antes, fundada por Jesus sobre Pedro, com liderança visível e sucessão apostólica. Mártires e fiéis perseguidos desde os primeiros tempos comprovam sua independência do poder político. Constantino apenas legalizou o cristianismo, facilitando sua expansão, mas não fundou a Igreja.
Não faz o menor sentido imaginar que algo sem consistência e sem organização pudesse atravessar dois milênios de lutas, perseguições e heresias, para só então um padre problemático aparecer como se tivesse redescoberto o verdadeiro cristianismo. Apesar das divisões e guerras provocadas por essa revolução, a promessa do Senhor permanece fiel: a Igreja que Ele instituiu continua firme e inabalável, mesmo quando todo o mundo conspira contra ela.
Basta lembrar o imperador Juliano, chamado o Apóstata, que tentou restaurar o paganismo e destruir a fé cristã. Derrotado em sua campanha contra o Império Sassânida em 363 d.C., suas últimas palavras entraram para a história: “Venceste, ó Galileu!” — reconhecimento involuntário de que ninguém pode resistir a Cristo nem à Igreja fundada sobre Pedro.
Pois somente a Igreja de Cristo é aquela contra a qual as portas do inferno jamais prevalecerão.


Basilica de São Pedro, em Roma

