O Purgatório Existe? Por Que Orar Pelos Mortos? (Meu Testemunho: Parte XII)
Patrícia Castro
7/31/20254 min read
Antes da minha conversão ao catolicismo, o conceito de Purgatório parecia estranho, quase incompreensível. A ideia de um estado de purificação após a morte contrastava fortemente com a visão protestante que eu conhecia, onde só existem dois destinos possíveis: Céu ou Inferno. Para os protestantes, crer em Jesus é garantia imediata de estar com Ele na glória, enquanto os que não creem estão destinados ao inferno. E, nesse ponto, há lógica: não faria sentido alguém que rejeitou Deus em vida ser forçado a viver eternamente ao Seu lado. Isso violaria o próprio livre-arbítrio.
Mas e quanto aos que creem? Estariam todos no mesmo nível espiritual? Será que alguém que renunciou aos próprios desejos, lutou contra o pecado e viveu em busca da santidade terá o mesmo destino de quem professou a fé, mas nunca permitiu que ela transformasse sua vida? Essa visão igualitária me parece, hoje, impregnada do igualitarismo marxista — uma rejeição dos méritos individuais, como se todos devessem receber o mesmo, independentemente da entrega pessoal.
Martinho Lutero, diante da sua angústia com o pecado, parece ter concluído: “Se eu não consigo ser santo, então ninguém consegue.” Em vez de abraçar a luta pela santidade, ele a descartou como inalcançável — ignorando a multidão de santos que, ao longo dos séculos, viveram essa realidade concreta de união com Deus.
Ouvia sempre pastores dizendo que o problema do pecado foi resolvido na cruz, mas hoje entendo que a fé caminha junto com a razão e não pode ser reduzida a uma simples fórmula mecânica. O Evangelho aponta para um caminho estreito, exigente, feito de renúncia e cruz. A fé verdadeira é mais do que um assentimento intelectual. É uma resposta viva ao amor divino revelado no Calvário.
Entenda que reduzir a fé a a uma “declaração” pode gerar uma falsa segurança — e nos afastar da transformação que a salvação exige. Como dizia Olavo de Carvalho: “A consciência da morte nos obriga a priorizar o essencial.” Viver com profundidade espiritual é reconhecer que há mais do que matéria — e que o destino da alma merece nossa atenção diária.
Santidade e Justiça: A Caminho da Plenitude
A santidade não é um ideal inalcançável. É uma realidade vivida por homens e mulheres que se entregaram totalmente a Deus. Canonizados ou anônimos, esses santos viveram em conformidade com a vontade divina. Seria justo equiparar um desses santos a um cristão que vive na superficialidade, sem esforço para fugir do pecado ou aprofundar sua vida oração? As vidas dos santos nos desafiam: estamos realmente buscando a santidade?
Deus é amor, mas também é justiça. Ele liberta, mas também exige obediência. Como disse Cristo: “Sede santos, porque Eu sou Santo” (1 Pedro 1:16). E sem santidade, ninguém verá a Deus (Hebreus 12:14).
Purgatório: Um Fogo Que Purifica
E para os cristãos, que creram se esforçaram, mas ainda não atingiram a santidade exigida por Cristo, existe o Purgatório que não é um inferno temporário, nem uma segunda chance. É um estado de purificação para almas que morreram na graça de Deus, mas ainda carregam imperfeições.
Leo J. Trese, em A Fé Explicada, ensina que “nada impuro entrará no Céu”. No Purgatório, as almas se desprendem das últimas manchas do pecado, movidas por um desejo ardente de união com Deus — um sofrimento cheio de esperança.
Fundamentos Bíblicos:
Embora a palavra “Purgatório” não apareça na Bíblia — assim como “Trindade” — a doutrina tem respaldo:
1 Coríntios 3:15: A alma será salva “como que através do fogo”.
2 Macabeus 12:45-46: (livro excluído por Lutero) Judas Macabeu oferece sacrifícios pelos mortos.
Mateus 12:32: Jesus fala de pecados que “não serão perdoados nem neste século, nem no futuro”.
A Tradição da Igreja, confirmada nos Concílios de Florença e Trento, sustenta essa doutrina há séculos.
Testemunhos dos Santos
Vários santos tiveram experiências com almas do Purgatório:
Santa Catarina de Gênova: viu o Purgatório como fogo de amor.
Santa Margarida Maria Alacoque: consolou almas que pediam oração.
São João Bosco: teve sonhos proféticos sobre o sofrimento purificador.
Santa Faustina Kowalska: destacou o poder da oração e do Terço da Misericórdia.
Padre Pio: oferecia seus sofrimentos pelas almas em purificação.
Esses testemunhos mostram que o Purgatório é uma realidade espiritual viva na Igreja.
A Comunhão dos Santos: Um Laço Que Transcende a Morte
A Comunhão dos Santos, que professamos com fé no Credo, é a expressão viva da unidade entre os membros da Igreja: nós, que ainda peregrinamos neste mundo (Igreja Militante), os santos que já contemplam a glória de Deus (Igreja Triunfante), e os irmãos que estão em processo de purificação no Purgatório (Igreja Padecente).
Essa comunhão não é apenas simbólica — é concreta e eficaz. Ao rezarmos pelos que partiram, oferecemos a eles um auxílio real. Nossas orações, Missas, penitências e indulgências têm o poder de aliviar seus sofrimentos e apressar sua entrada na plenitude do Céu.
Orar pelos mortos é um gesto profundo de caridade. É reconhecer que o amor não termina com a morte e que, em Cristo, permanecemos unidos. É confiar que Deus, em Sua infinita misericórdia, continua a agir mesmo após o último suspiro — conduzindo as almas à luz eterna.
Uma Doutrina Coerente
O Purgatório expressa perfeitamente a justiça e a misericórdia de Deus. Ele não contradiz o plano salvífico — ao contrário, o torna mais sensível à condição humana. Não é uma nova chance para o ímpio, mas a conclusão da jornada de santificação dos que já foram salvos.
Deus, em Seu amor, permite que a alma seja plenamente transformada antes de entrar na alegria eterna. Como está escrito:
“Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou no coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que O amam.” (1 Coríntios 2:9)

