Preparados para o Noivo? O Advento e Sua Lâmpada
Patrícia Castro
12/2/20255 min read
Quando eu era protestante, eu não fazia ideia do que era o Advento. Desconectada do calendário litúrgico da Igreja, eu comemorava o Natal da mesma forma que o mundo o celebra: confraternização com a família e um jantar especial. Não percebia que o Advento é um dos períodos mais importantes do ano litúrgico. Ele marca o início do ano da Igreja e nos chama a uma preparação espiritual para a segunda vinda de Cristo.
Infelizmente, muitos católicos deixam passar esse tempo como se fosse apenas “o início do mês do Natal”, mas o Advento é muito mais do que isso. É um chamado sério à vigilância, conversão e sobriedade, para que a celebração do nascimento de Cristo não se torne, para nós, uma festa vazia, paganizada e desconectada de seu verdadeiro significado.
O Advento começa no primeiro domingo que cai entre 27 de novembro e 3 de dezembro, ou seja, no domingo mais próximo da festa de Santo André (30 de novembro). Ele contém quatro semanas litúrgicas, terminando na tarde de 24 de dezembro, quando se iniciam as Vésperas do Natal. Essa variação de datas nos lembra que o evento não é regido pelo calendário civil, mas pelo tempo da Igreja, que nos educa espiritualmente e nos prepara, ano após ano, para acolher Cristo com um coração renovado.
Posso testemunhar, nesses quase quatro anos desde a minha conversão à fé católica, que o calendário litúrgico é essencial para a vida espiritual. Ele me ensina a viver a fé de maneira concreta e encarnada, conduzindo-me dia após dia, domingo após domingo, mistério após mistério, a permanecer unida à Videira, que é Cristo.
A liturgia funciona como um pulso espiritual: ela nos ensina a esperar, a meditar, a celebrar, a penitenciar, a alegrar-nos e, principalmente, a permanecer vigilantes.
Quem vive no ritmo da liturgia não se desliga da fé, porque está continuamente alimentado pela Palavra, pelos sacramentos e pelos mistérios de Cristo.
Assim o católico permanece acordado, atento e firmado na graça — longe da tibieza espiritual que nos distrai com coisas que nem sempre são ilícitas, mas nos roubam o foco, a sobriedade e a vigilância que o Evangelho exige de nós.
Advento: preparação para a Segunda Vinda
Certa vez, ouvi uma ex-católica do IBGE acusando a Igreja de não falar sobre a vinda de Cristo. Ela certamente nunca participou ou compreendeu o tempo litúrgico. Diferente de muitos púlpitos evangélicos, onde os pastores pregam o que querem aos domingos, a Igreja segue uma liturgia uniforme em todo o mundo, percorrendo toda a Bíblia sem pular nenhuma parte.
Durante todo o período do Advento, todos os padres do mundo estão pregando a verdade sobre a vinda de Cristo em glória. Por isso, esse tempo é de esperança e sobriedade. Jesus nos alerta:
“Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora.” (Mt 25:13)
O Evangelho não nos chama ao medo, mas à fidelidade: quem vive na graça deseja o encontro com Cristo.
Muitos ímpios dirão que esperar a volta de Cristo é bobagem, alegando que “há dois mil anos dizem que Jesus vai voltar e Ele ainda não voltou”. A verdade é que, para quem já morreu, Ele já voltou. O momento da morte é quando a alma descobre seu destino: céu, inferno ou purgatório temporário. Cada pessoa encontra-se com Cristo de forma definitiva e pessoal. Por isso, o Advento insiste que a vinda do Senhor — seja universal, seja pessoal — pode nos encontrar hoje. E precisamos estar preparados.
Jesus contou a parábola das virgens prudentes e insensatas (Mt 25:1-13) justamente para ilustrar essa vigilância: as virgens prudentes tinham óleo para suas lâmpadas; as insensatas não se prepararam; o noivo chegou de surpresa; só as prudentes entraram para o banquete.
O óleo simboliza a fé viva, alimentada pela oração, sacramentos, caridade, penitência, vida litúrgica, fidelidade diária. O Advento é tempo de nos perguntar: Tenho óleo suficiente para quando o Noivo vier?
Entenda a diferença entre a visão católica e o erro do arrebatamento pré-tribulacional
A doutrina do arrebatamento pré-tribulacional - muito presente entre os protestantes - surgiu apenas entre os séculos XVIII e XIX, inicialmente influenciada pelo padre Manuel Lacunza e, posteriormente, sistematizada pelo pastor protestante John Nelson Darby. Essa teoria não pertence à fé apostólica nem à Tradição dos Padres da Igreja por isso foi condenada pela Igreja.
Por que a Igreja Católica rejeita essa doutrina? Primeiramente, porque não há base bíblica para um arrebatamento secreto. A Igreja não será retirada do mundo antes da tribulação; mas será purificada nela. A vinda de Cristo será um evento público, universal e definitivo, por isso devemos permanecer fiéis, carregando a cruz, e não esperando escapar dela.
O Catecismo é claro:
“Antes da Vinda de Cristo, a Igreja deverá passar por uma prova final”. (CIC 675)
Preparação verdadeira: cruz, oração, vigilância e vida litúrgica
O católico se prepara para a vinda de Cristo, seja ela pública ou particular, vivendo:
A cruz diária: renúncias, deveres e fidelidade.
A oração constante: Rosário, Missa, confissão, adoração e Palavra.
A vigilância: evitar o pecado, buscar a graça, cultivar virtudes.
A caridade concreta: Cristo nos julgará pelo amor.
A proximidade com a liturgia: permanecer unido à Videira.
O Natal é, depois da Páscoa, a festa mais importante da fé católica. Porém, hoje vemos o Natal se transformar em uma celebração pagã: festas sociais, consumo exagerado, comidas e bebidas, decorações exuberantes, presentes, folga e diversão. Já ouvi pastor acusar a Igreja Católica de promover uma festa pagã. Mas o paganismo envolvendo o Natal, não tem nada a ver com a Igreja.
A Igreja ensina que nada desse paganismo é o verdadeiro Natal.
O Natal é a celebração do Deus que se fez carne, iniciando nossa redenção. A luz rompeu as trevas, e o Pai revelou Seu amor eterno ao nos entregar Seu único Filho.
Quando reduzimos o Natal a comércio, estética ou mera tradição cultural, perdemos o seu verdadeiro sentido. É triste ver inúmeras celebrações natalinas onde Cristo sequer é mencionado. Isso ocorre até mesmo em cidades turísticas que exploram o tempo natalino para atrair visitantes do mundo inteiro, como Gramado ou Orlando, nos EUA. O sentido da festa é ocultado, enquanto se busca apenas lucro com uma celebração tão bela.
É urgente recuperar o caráter sagrado do Natal — uma solenidade que nos conduz à oração, à adoração, à família reunida em Cristo, à Missa e à alegria da salvação.
O Advento é tempo de preparar o coração. O Natal é tempo de adorar o Deus feito homem. Vividos com fé, esses tempos nos fortalecem como Igreja Santa e nos mantêm firmes no caminho da santidade.
Que não sejamos encontrados dormindo, como as virgens insensatas, mas vigilantes, com as lâmpadas acesas, unidos à liturgia, carregando nossa cruz e firmes na fé.
“Ora vem, Senhor Jesus!”

