São Geraldo Majella: A Santidade que Brilha em Silêncio

Patrícia Castro

10/23/20254 min read

Eu vivi muitos anos sem acreditar na santidade. Como protestante, não acreditava na existência de santos e, por isso, também achava impossível que uma pessoa comum pudesse se configurar a Cristo da maneira que São Paulo descreve: “Já não sou eu quem vive, mas Cristo que vive em mim” (Gálatas 2:20).

Hoje, percebo que a ignorância sobre a vida dos santos é um dos maiores obstáculos à fé e ao crescimento espiritual. Afinal, se não acredito que é possível ser santo na Terra, como vou almejar atingir essa grandeza de alma?

Por isso, creio que um dos trabalhos mais importantes para nós, católicos, é conhecer a história dos santos, contá-la aos nossos filhos e compartilhar essas vidas com quem amamos.

Ao contrário do que muitos pensam, a santidade não se conquista por decreto papal. O Papa apenas reconhece aqueles cujas vidas brilharam tanto que não puderam permanecer escondidas.

Algumas vidas brilham como o sol do meio-dia: imponentes, grandiosas, cheias de feitos e palavras. Outras são como um candeeiro silencioso, que arde escondido num canto e ilumina sem ser visto.

E hoje, quero apresentar a história de São Geraldo Majella:

A vida de São Geraldo Majella pertence a este segundo grupo: humilde aos olhos do mundo, mas imensamente grandiosa aos olhos de Deus.

O menino de Muro Lucano

Geraldo nasceu em 6 de abril de 1726, em Muro Lucano, no sul da Itália. Filho de um humilde alfaiate e de uma mãe piedosa, cresceu em meio à pobreza material, mas enriquecido pela fé, pela caridade e pelo amor a Deus. Desde menino, tinha algo de diferente: gostava de se recolher em silêncio, rezava diante do sacrário e mostrava uma ternura incomum pelos pobres.

Quando perdeu o pai, ainda adolescente, o pequeno Geraldo precisou trabalhar para sustentar a casa. Serviu como aprendiz de um alfaiate rude, que o tratava com muita dureza. Mas ele nunca se revoltou. Suportava as humilhações com um sorriso sereno e o coração em paz, oferecendo tudo a Deus. A paciência — virtude rara — foi sua primeira forma de santidade.

O chamado que não se cala

O coração de Geraldo ardia de desejo de pertencer totalmente a Cristo. Tentou entrar no convento dos Capuchinhos, mas foi rejeitado — era fraco demais, diziam. Foi orientado a servir um bispo que tinha um temperamento muito difícil e Geraldo o serviu com amor e paciência. Vivia como um consagrado: jejuava, rezava, cuidava dos doentes e passava noites diante do crucifixo.

Em 1749, missionários Redentoristas chegaram a sua cidade. Durante as pregações, sentiu claramente a voz de Deus chamando-o. Sua mãe, temendo perdê-lo, tentou impedir, trancando-o num quarto. Mas numa madrugada, Geraldo deixou um bilhete sobre a mesa, pedindo perdão à sua mãe disse:

“Vou para me tornar santo”.

E partiu, com o coração decidido e confiante na Providência.

O irmão dos pequenos serviços

Aceito por Santo Afonso Maria de Ligório na Congregação do Santíssimo Redentor, Geraldo tornou-se irmão leigo. Não pregava sermões, não celebrava Missa — mas amava nas pequenas coisas.

Era sacristão, alfaiate, porteiro, jardineiro, enfermeiro.
Tudo o que fazia — varrer um chão, arrumar o altar, acender uma vela — fazia como se o próprio Cristo fosse o destinatário de cada gesto. “Fazer a vontade de Deus” era o lema de sua vida.

E Deus o recompensava com dons extraordinários:

  • via o que ninguém via,

  • lia nos corações,

  • curava os enfermos,

  • multiplicava pão para os pobres,

  • e, em algumas ocasiões, foi visto em dois lugares ao mesmo tempo.

Mas, para ele, o milagre maior era obedecer em silêncio, mesmo quando era humilhado.

Como um santo enfrenta a calúnia

Um dia, foi acusado injustamente por uma jovem de ser o pai de seu filho.
A notícia espalhou-se. Muitos o julgaram.
Geraldo nada respondeu. Apenas abaixou a cabeça e rezou.
Meses depois, a jovem, arrependida, confessou a mentira.
Seu nome foi limpo — e sua paciência tornou-se um testemunho vivo do Evangelho.

O santo que andou literalmente sobre as águas

Geraldo precisava frequentemente levar objetos ou ferramentas entre cidades ou comunidades. Conta-se que em certas ocasiões, quando o transporte normal era impossível (mar agitado, barcos indisponíveis), ele atravessou o mar caminhando sobre as águas, sem se molhar e sem perigo, confiando totalmente em Deus.

Também há relatos em que ele ajudou barcos à deriva em tempestades, movendo-os ou guiando-os à terra.

Geraldo nunca agia para se exibir e jamais buscava glória pessoal. Todos os relatos sobre sua vida mostram que cada gesto seu tinha um único propósito: obedecer a Deus, proteger os necessitados e servir aos outros com amor.

O último suspiro

Aos 29 anos, já consumido pela tuberculose, Geraldo esperava a morte com serenidade. Um crucifixo entre as mãos, um sorriso nos lábios e o mesmo lema no coração:

“Faça-se a vontade de Deus”.

Era o 16 de outubro de 1755. A terra perdia um jovem humilde, e o Céu ganhava um intercessor poderoso.

O Santo da obediência e da ternura

Beatificado por Leão XIII e canonizado por São Pio X em 1904, São Geraldo tornou-se o padroeiro das mães, gestantes e crianças. Seu corpo repousa em Materdomini, na Itália, onde milhares de peregrinos o visitam em busca de consolo e milagres.

Lição eterna

Com fé, humildade e paciência, São Geraldo nos ensina que “o segredo da paz é amar o que Deus quer”.

São Geraldo Majella, rogai por nós.