“Uma vez salvo, salvo para sempre?” Por que a fé católica diz que não
Patrícia Castro
9/22/20253 min read
A expressão “uma vez salvo, salvo para sempre” tem sido amplamente divulgada em algumas denominações protestantes, sustentando que a salvação, uma vez recebida, é irrevogável, independentemente da conduta futura do fiel. Essa visão, conhecida como “segurança eterna” ou “perseverança irremovível”, apresenta sérios problemas à luz da fé católica, pois ignora a liberdade humana, a necessidade de perseverança e a contínua cooperação com a graça divina.
É importante esclarecer que a salvação é um dom de Deus, mas não elimina a liberdade humana. O que nos difere dos animais é que nós temos o livre-arbítrio: o poder de escolher. Esse poder traz consigo a responsabilidade pelos nossos atos. O Catecismo da Igreja Católica é categórico: “Se alguém vive deliberadamente em pecado mortal sem arrependimento até o fim, não alcançará a vida eterna” (CIC 1033). Santo Agostinho ensina:
“Deus nos dá a graça para perseverar, mas a perseverança supõe nossa cooperação. Quem abandona o bem, afasta-se da salvação” (Sermão 341).
A fé católica rejeita dois extremos que ameaçam a verdade da salvação:
Pelagianismo — Este erro, condenado pela Igreja desde os primeiros séculos, sustenta que o ser humano poderia alcançar a salvação exclusivamente por seus próprios méritos e esforços, sem a graça de Deus. O Pelagianismo ignora que toda virtude e perseverança espiritual dependem da graça divina, e que o ser humano sozinho não pode se salvar.
Antinomianismo moderno — Uma visão contemporânea que sustenta que a salvação é automática, independente de esforço humano, oração ou luta contra o pecado.
A Escritura adverte sobre a possibilidade de perder a salvação. Em Hebreus 6:4-6, lemos: “Porque é impossível que aqueles que uma vez foram iluminados... e depois caíram, sejam outra vez renovados para arrependimento…” Em Apocalipse 2:5, Cristo exorta: “Lembra-te, pois, de onde caíste; arrepende-te e pratica as primeiras obras”. E 2 Pedro 2:20-22 adverte que quem abandona a verdade anterior encontra-se em situação pior do que antes. Santo João Crisóstomo reforça:
“Não basta iniciar a vida na graça; é preciso caminhar até o fim. Muitos perdem o prêmio por preguiça e desleixo” (Homilia sobre 1 Coríntios).
A perseverança exige vigilância principalmente contra os sete pecados capitais — orgulho, avareza, inveja, ira, luxúria, gula e preguiça — que corroem a alma e afastam o cristão da graça. Santa Teresa de Ávila adverte:
“Não podemos dormir sobre nossos louros espirituais. A alma que não se esforça pela santidade está em perigo” (Caminho de Perfeição, 2,2).
O mundo moderno relativizou o pecado e psicologizou a fé, levando muitos a uma falsa segurança espiritual. Muitos cristãos confundem emoção, cânticos e arrepio com compromisso de vida. A fé não é sentimento ou conforto psicológico: é um chamado diário à conversão, à luta contra o pecado, à oração constante e ao crescimento no amor. A fé é a resposta do homem ao Deus que se revela.
A oração fortalece a relação pessoal com Deus, protege contra as tentações e nos ajuda a discernir Sua vontade. O amor é a essência da fé cristã: Santo João nos ensina que “Deus é amor” (1 Jo 4:8) e que aquele que permanece no amor permanece em Deus. Sem oração, sem crescimento no amor e sem vigilância contra o pecado, a fé torna-se frágil e a perseverança espiritual fica ameaçada.
Combatendo diariamente os vícios, cultivando virtudes, mantendo uma vida de oração e crescendo no amor, o cristão coopera com a graça divina e mantém firme seu caminho para a vida eterna. A fé católica não promete imunidade automática; ela exige cooperação com a graça e esforço humano, evitando tanto o Pelagianismo quanto o antinomianismo moderno.
Em suma, a ideia de “uma vez salvo, salvo para sempre” ignora elementos centrais da fé católica: a liberdade humana, a necessidade de perseverança, a luta contra o pecado, a oração, o crescimento no amor e o discernimento diante de um mundo que relativiza a moral e confunde emoção com fé. A Igreja nos chama a permanecer firmes na fé, vigiar contra os pecados, cultivar o amor e caminhar sempre em direção a Cristo, conscientes de que a santidade é um esforço diário sustentado pela misericórdia divina.
O Padre José Eduardo nos adverte: "Que não nos rendamos a uma doutrina desequilibrada que coloca tudo na graça ou tudo na lei. Nós precisamos da graça para praticar a lei e chegar à santidade". (https://youtu.be/rjlAPhdWQec?si=wKOyKM9BkH1iAqr1)

